As hamadríades eram ninfas dos bosques. Pomona era uma delas, e nenhuma a excedia no amor aos jardins e ao cultivo das árvores frutíferas. Não se


Certo dia, ele apareceu disfarçado em velha, com os cabelos grisalhos cobertos por uma touca e tendo um bastão na mão. Entrou no pomar e admirou os frutos. — Mereces louvor, minha filha — disse, e beijou Pomona, não exatamente como a beijaria uma velha. Sentou-se num banco e olhou para os ramos carregados de frutos que pendiam acima dela. Em frente, havia
um olmo, por cujo tronco subia uma parreira, carregada de uva. Elogiou a árvore e a vinha a ela associada. — Mas — acrescentou — se a árvore ficasse só, sem a vinha lhe cingindo o tronco, nada teria para nos atrair ou nos oferecer, a não ser as folhas inúteis. E, igualmente, a vinha, se não se enroscasse em torno do olmo, estaria prostrada no chão. Por que não aproveitas a lição da árvore e da vinha e concordas em unir-te a alguém? Eu desejaria que assim o fizesses. A própria Helena não teve tantos pretendentes, nem Penélope, a esposa do astucioso Ulisses. Apesar de desprezá-los, eles te fazem a corte, divindades rurais e outros de diversas naturezas que andam por estas montanhas. Mas, se és prudente, e desejas fazer uma boa aliança, e deixares que te aconselhe uma velha que te ama mais do que supões, deixa de lado todos os outros e aceita Vertuno. E o meu conselho. Conheço-o tão bem quanto ele se conhece. Não é uma divindade errante, mas pertence a estas montanhas. Nem se assemelha a muitos dos amantes de hoje em dia, que amam todas que têm ocasião de ver. Ele te ama, e somente a ti. Ajunta a isso que ele é jovem e belo e tem a arte de assumir qualquer aspecto que deseje, e pode transformar-se exatamente naquilo que desejes. Além do mais, ele ama as mesmas coisas que amas, deleita-se com a jardinagem e admira tuas maçãs. Agora, porém, ele não se interessa por frutas e flores, nem outra coisa qualquer, a não ser por ti. Tem piedade dele e imagina-o falando agora por minha boca. Lembra-te de que os deuses castigam a crueldade e de que Vênus detesta os corações duros e vingar-se-á de tais ofensas, mais cedo ou mais tarde. Para provar isto, deixa-me contar-te uma história que é bem sabido em Chipre ser verdadeira. E espero que ela tenha como resultado tornar-te mais benevolente.
"Ífis era um jovem de origem humilde, que se apaixonou por Anaxárete, nobre dama de uma antiga família de Têucria. Lutou muito tempo com sua paixão, mas, quando viu que não podia dominá-la, procurou a casa da mulher amada, como suplicante. Primeiro contou sua paixão à ama de Anaxárete e pediu-lhe que, se amasse a filha de criação, favorecesse sua causa. Depois, tentou arrastar os criados para o seu lado. Às vezes, escrevia suas súplicas em tabuinhas e, muitas vezes, pendurou, na porta, guirlandas que molhara com suas lágrimas. Estendia-se nos umbrais da morada da jovem e murmurava suas queixas às barras e fechaduras cruéis que dela o separavam. Anaxárete mostrava-se mais surda que os vagalhões que se erguem nas tempestades de novembro; mais dura que o aço que vem das forjas germânicas ou que a pedra que ainda se prende ao seu rochedo nativo. Zombava e ria-se de Ifis, ajuntando palavras cruéis ao seu rude tratamento, e não lhe dava a mais ligeira esperança. Ífis já não podia suportar os tormentos do amor desesperançado e, de pé diante da porta da amada, disse estas últimas palavras: — Venceste Anaxárete, e já não terás de suportar minhas importunações. Goza o teu triunfo! Canta canções de alegria e cinge tua cabeça de louros. Venceste. Vou morrer. Coração de pedra regozija-te! Isto ao menos posso oferecer-te e obrigar-te a elogiar-me. E assim provarei que o meu amor por ti só me abandonará juntamente com a vida. Nem deixarei ao cuidado de outros a notícia de minha morte. Irei eu mesmo e me verás morrer e hás de regalar teus olhos com o espetáculo. Contudo, ó deuses que baixais os olhos para os sofrimentos dos mortais, observai meu destino! Só peço uma coisa: que eu seja lembrado nos tempos vindouros e que ajunteis à minha fama os anos que roubastes de minha vida. Assim ele disse e, voltando o rosto pálido e os olhos lacrimosos para a mansão da amada, amarrou uma corda ao portal onde muitas vezes prendera guirlandas e, metendo a cabeça no laço, murmurou: — Pelo menos esta guirlanda há de agradar-te, jovem cruel!

